terça-feira, 13 de setembro de 2011

Seminário discute reciclagem de resíduos e sustentabilidade

“Sustentabilidade das cidades”. Este foi o tema abordado durante o seminário promovido pelo Instituto Ernesto Zwarg (IEZ) e Associação Comercial de Itanhaém (ACAI), neste final de semana, dias 10 e 11, na sede da ACAI, em Itanhaém, para comemorar um ano de fundação do IEZ. O evento reuniu vários ambientalistas e profissionais da área de meio ambiente que fizeram palestras sobre reciclagem de resíduos sólidos, educação ambiental e sustentabilidade.
A abertura do evento, sábado, foi marcada pela apresentação de danças e cantos indígenas das aldeias Piaçaguera e Nhamandú-mirim, localizadas na divisa entre Itanhaém e Peruíbe. Os índios apresentaram o canto “Ritual da Purificação” e, no final, a “Dança dos Guerreiros” com a participação do público. A representante da aldeia indígena Piaçaguera, Catarina, lembrou a importância do ambientalista Ernesto Zwarg junto à causa indígena no Litoral Sul. “Zwarg foi um dos pioneiros que ajudou muito os índios da nossa região”, destacou.
O presidente do IEZ, Itamar Zwarg, relembrou a fundação do Instituto em setembro de 2010, destacando que hoje o IEZ está envolvido na luta, em várias frentes, pela preservação do meio ambiente. “Pretendemos mostrar que é possível agir em defesa do meio ambiente e, ao mesmo tempo, manter o desenvolvimento sustentável”, salientou.
O presidente da Associação Comercial de Itanhaém (ACAI), Eliseu Chagas, também falou sobre a importância do trabalho do IEZ. Citou ainda o problema do vazamento de esgoto nas praias de Itanhaém e que a ACAI está disposta a trabalhar em parceria com as entidades para a solução do problema. Participaram ainda a secretária municipal de Meio Ambiente, Rosana Bifulco, Lúcia Guaraldo, do Instituto Chico Mendes (ICMBio), vereadora Regina Célia de Oliveira, João Malavolta, da Ecosurfi, e Djalma Filoso, da OAB.
Palestras – No sábado, durante o dia todo, aconteceram diversas palestras. O biólogo Renato Navilli falou sobre o tema “Materiais biológicos como instrumento de educação ambiental”, lembrando que o Instituto está aguardando o Parque Ecológico – projeto da Prefeitura de Itanhaém, para montar o Museu da Costa da Mata Atlântica.
O biólogo também montou, na sede da ACAI, exposição de vários animais taxidermizados para o público. Navilli explicou as técnicas usadas na taxidermia e que tem mais de 2 mil animais em seu acervo, entre crustáceos, mamíferos e outros. Ele trabalha em parceria com a Polícia Ambiental, Ibama e outros órgãos no acolhimento de animais. O biólogo já vem realizando palestras de educação ambiental nas escolas e cursos na área de meio ambiente. 

O presidente da Ecosurfi, João Malavolta, fez uma palestra sobre o trabalho da entidade e a sustentabilidade. Ele destacou que o ecoturismo poderia ser referência em Itanhaém, mas que não é desenvolvido na Cidade. “Itanhaém tem grande potencial para o ecoturismo e o turismo rural”, citando vários atrativos como a Bacia hidrográfica, a Serra do Mar e as belezas naturais da Cidade. Malavolta explicou que a Ecosurfi desenvolve um projeto que, atualmente, está na fase de identificar o potencial da região  cultural, turístico e regional.    
A bióloga Lúcia Guaraldo, chefe da Estação Ecológica Tupiniquins e do Instituto Chico Mendes (ICMBio), também fez palestra sobre  as Unidades de Conservação Marinhas na região. O trabalho de pesquisa e de educação ambiental é realizado nas Ilhas Peruíbe, Queimada Pequena e Ilhote, Cambriú e Castilho, além do Parcel Noite Escura. A Estação Ecológica é quem coordena as atividades nas ilhas. Destacou ainda que esta é a primeira vez que Itanhaém possui um órgão ambiental federal.
Outro palestrante foi o engenheiro agrônomo Vinícius Camba de Almeida, da Associação dos Engenheiros e Arquitetos (AEA), sobre a implantação de reservas legais conforme a lei 4771/65. E ainda Odair Aurian sobre “Tratamento de Resíduos Hospitalares”, e o engenheiro agrônomo Odil Vasquez, da Associação dos Produtores Rurais da Microbacia Hidrográfica do Rio Branco (Amibra) sobre “Nosso trabalho tem raízes”.
Coleta seletiva
Roseli Cunha, da ONG Reciclando a Favor da Vida (Rafavi), também falou sobre o trabalho da coleta seletiva de lixo no Município e a Cooperativa. O trabalho começou em 2008 com 35 ex-catadores e hoje conta com 21 cooperados que trabalham com a separação e a comercialização dos resíduos sólidos. A coleta seletiva tem sido realizada em escolas, repartições públicas e em alguns pontos nos bairros de Itanhaém, em dias alternados. Os cooperados coletam 35 toneladas/mês de resíduos que são vendidos no próprio Município.
Rosana Bifulco, secretária municipal de Meio Ambiente, expôs o projeto “Rio Itanhaém Lixo Zero”. Segundo Rosana, o trabalho de limpeza é realizado nos rios e nos mangues de Itanhaém, em duas etapas: coleta do material e educação ambiental junto à população ribeirinha. O trabalho é feito em parceria entre Prefeitura de Itanhaém e Fehidro. Os piores rios com maior quantidade de lixo são os rios Campininha e Coritiba, devido à ocupação desordenada. Na Ilha do Bairro, segundo ela, os moradores já separam o lixo e também foi colocado um contêiner para facilitar a coleta. O trabalho de educação ambiental é feito junto aos moradores, turistas e pescadores.
Resíduos sólidos x lixo   
Na noite de sábado, no auditório da Faculdade de Itanhaém (Faita), o professor doutor e sociólogo Maurício Waldmann, falou sobre resíduos sólidos. Ele destacou a diferença entre as palavras: resíduos sólidos e lixo. Explicou que o lixo tem a ver com o mau ou coisa ruim, já os resíduos sólidos não têm peso cultural e que podem ser reciclados e reutilizados. Citou ainda que na natureza são movimentados 50 bilhões toneladas de materiais/ano; o homem movimenta 48 bilhões toneladas/ano, sendo que, desse total, 30 bilhões toneladas são de lixo em todo o mundo.
Dos países que mais geram lixo os Estados Unidos estão em primeiro lugar (31%), seguido pela União Européia, Japão e China, mas que o Brasil também é um grande gerador de lixo. Entre 2008 e 2009, a população cresceu 1% no Brasil e a produção de lixo foi 6,6%.
Waldmann citou trechos do livro “O ecologismo dos pobres”, do autor espanhol Joan Martinez, explicando que em determinados trechos o autor mostra que lixo zero não existe; desmaterialização da economia não existe e reciclar indefinidamente também não existe, já que todo material tem um fim e pode ser recuperado só até certo ponto. 
O professor lembrou ainda que para se realizar uma gestão integrada com o objetivo de se diminuir o lixo no planeta tem que haver o cidadão consciente, o Estado atuante e a sociedade participante. “No Brasil temos riqueza de recursos e de pessoas, porém falta vontade política”, finalizou.

O empresário Aires Mauro de Freitas, de Mauá, falou sobre a industrialização de recicláveis. Explicou que trabalha com a reciclagem de pets para a fabricação de outros produtos, como assentos, pranchas, cabides, colchões, etc. “Montei uma empresa familiar com a idéia de ganhar o sustento e, ao mesmo tempo, contribuo para a redução de resíduos”. Fez uma demonstração ao público de como se faz a mistura do polio (resultante do pet) e uma solução química, resultando em outro material usado para fabricar colchões, pranchas e outros.   
Homenagens
A noite de sábado contou ainda com duas importantes homenagens - ao engenheiro agrônomo Kanae Fujihira, recebendo o título de Amigo da Agricultura, pelo seu trabalho com cultivo orgânico no município.
Outra homenagem foi feita ao cantor e compositor Bruno Zwarg (irmão de Ernesto Zwarg) pelo presidente da Câmara, Marco Aurélio, que entregou o título de Cidadão Itanhaense por sua contribuição com as letras e músicas sobre Itanhaém. Bruno ainda foi homenageado pelo Coral Municipal Vozes de Itanhaém que cantou músicas do CD “Cancioneiro do Litoral”, como “Trenzinho do Litoral”, “Praias de Itanhaém”, “O velho mar” e outras. E a apresentação do curta-metragem “Aperreio”, do cineasta Doty Luz.
No domingo, encerramento do evento, o público participou de uma caminhada ecológica ao Morro do Sapucaitava, na Praia do Sonho, e ainda de aula de surf seco com uma prancha sustentável e do plantio de uma muda nativa de Mata Atlântica, em frente a sede da ACAI.

Texto: Nayara Martins   

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