No sábado, dia 30 de julho, o Instituto Ernesto Zwarg – IEZ realizou uma caminhada a pé de Peruíbe a Iguape, resgatando a tradição iniciada no final dos anos 60 pelo ambientalista Ernesto Zwarg. Na época, as caminhadas eram feitas por caiçaras religiosos à Festa de Bom Jesus de Iguape e também como forma de protesto contra a instalação de usinas atômicas e a especulação imobiliária, pois a intenção era de construir um condomínio e um resort na região da Jureia-Itatins.
A caminhada, de aproximadamente 9 horas e 30 km de percurso, teve a participação de 29 pessoas que foram acompanhadas por três guias cadastrados na Secretaria de Meio Ambiente. Além de aproveitar o belo visual da serra da Jureia, o grupo também contou com a presença de dois biólogos e dois veterinários especialistas em fauna silvestre, que proporcionaram aos participantes uma verdadeira aula pratica sobre a fauna e a flora de uma das mais ricas biodiversidades do planeta, reserva da biosfera e remanescente da Mata Atlântica. Durante o trajeto foi feita a análise da origem do lixo marinho encontrado, em parte despejado pelas embarcações e trazido pelas correntes marinhas e também deixado pelas populações ribeirinhas no rio Ribeira de Iguape.
A caminhada teve início às 8h30, após a travessia do rio Una do Prelado, no bairro Barra do Una, em Peruíbe, e seguiu pela praia do Una até o morro do Grajaúna, passando pelo antigo cemitério indígena caiçara, instalado junto ao local do encontro da imagem de Bom Jesus de Iguape, no século XVII, em 1642, fato que deu origem à segunda maior peregrinação do Estado.
Na trilha paralela à praia, o grupo pode avistar dois bandos de macacos-prego, roedores silvestres, jacus-guaçus, surucuás e diversos pássaros de pequeno porte, além da vegetação típica de jundú e a exuberante mata atlântica primária.
Após passar pelo Grajaúna e no morro do Itacolomy, o grupo observou as profundas prospecções de estudos geológicos realizadas pela Nuclebrás, durante o governo militar, para a instalação de uma das quatro usinas atômicas do projeto nuclear brasileiro, previstas para a região. Do alto do morro, se avistou a praia do Itacolomy, a praia do Rio Verde, e o deslumbrante Maciço da Jureia, envolto por nuvens que traziam chuvas ocasionais. Na trilha foram vistas, ainda, algumas pegadas recentes de um mamífero de grande porte.
A travessia do Rio Verde foi feita por barco, já que, no momento da passagem do grupo, a maré estava alta. Na praia do Rio Verde, junto à foz, foram encontrados restos de tartarugas e de mamíferos marinhos. Na trilha de 4 km que atravessa a serra rumo à praia da Jureia, o grupo encontrou um macaco-prego que cruzou a trilha entre os caminhantes. Em diversos pontos da trilha há grandes pedras colocadas por escravos para facilitar a subida. No meio do percurso da serra há uma bela cachoeira, onde a imagem do Bom Jesus de Iguape foi lavada pelos caiçaras que a encontraram para a sua dessalinização.
Durante o trajeto, e principalmente na trilha da serra da Jureia, o grupo pode ver os postes do telégrafo fabricados pela empresa inglesa Siemens, por encomenda do imperador Dom Pedro II, para a comunicação durante a Guerra do Paraguai – daí surgiu o nome “Caminho do Imperador”. Mas a trilha é muito mais antiga: bem antes da guerra do Paraguai e do encontro da imagem do Bom Jesus, a trilha já era utilizada pelos correios de “El Rey”, os antigos carteiros do reino de Portugal que viajavam a pé pelo litoral sul paulista, de São Vicente a Cananéia, entregando correspondências.
Entretanto, alguns pesquisadores afirmam ser essa antiga trilha um ramal do milenar “Caminho do Peabirú” ou “Caminho de Pai Sumé”, entidade legendária identificada com a figura de São Tomé, que ligava o oceano Pacífico ao Atlântico e utilizada pelos incas e tupi-guaranis para o intercâmbio e troca de mercadorias. Esse ramal ligava os portos de São Vicente a Cananéia, os dois extremos do milenar caminho indígena.
Ao final da caminhada, devido à maré alta, os caminhantes tiveram que percorrer mais três quilômetros, na praia da Jureia, até alcançar o caminhão que os levou até Barra do Ribeira, onde passaram a noite. Durante o percurso, o grupo entoou as canções dos “Cancioneiros do Litoral”, dos irmãos Ernesto, Bruno e Ascendino Zwarg.
No domingo, 31, o grupo foi até Iguape e se reuniu em frente à Basílica de Iguape, para prestar homenagem ao saudoso ambientalista Ernesto Zwarg - que completaria 86 anos no dia 29/7, e também visitar a imagem do Bom Jesus de Iguape.
Texto: Nayara Martins e Marcio Zwarg
Nenhum comentário:
Postar um comentário