Texto de Maria Lúcia Prandi

Maria Lúcia Prandi é educadora, cientista política e ex-deputada estadual (PT).
Colaboradora.

Querido Zwarg

Há dois anos, em 25 de agosto, calou-se a voz de um dos maiores ambientalistas do Século XX: Ernesto Zwarg Júnior. Preservar a sua memória, divulgar a sua luta e, seguir seu exemplo são compromissos que devemos renovar a cada dia.
Ativista impetuoso, defensor das matas, dos índios, das comunidades tradicionais e da liberdade, Zwarg era um apaixonado pela causas que defendia. Foi guerreiro sem armas, pacifista na luta por um mundo melhor.
Nasceu em Piracaciba, em 1925. Por sorte nossa, quando seu pai se aposentou, em 1947, decidiu morar em Itanhaém. E foi na cidade que Ernestinho morou desde então. Morou, criou, revolucionou, provocou e conquistou uma legião de seguidores.
Seus olhos de profundo azul brilhavam ainda mais quanto maior fosse o desafio. Era formado em Filosofia e Letras, com pós-graduação na área ambiental. Atuou como jornalista, foi professor, compositor e poeta. Exerceu a vereança por vários anos. Junto com o irmão, Antônio Bruno, é autor do Hino de Santos.
Seus primeiros gritos foram para denunciar as ocupações e o fechamento de área de Marinha para interesses particulares, nos morros, costões e encostas da região. Aos poucos foi deixando de ser o Ernestinho, o professor Zwarg, o Gnomo, o Duende, o Doidão da Juréia, como se autodenominava.
Era inimigo das grandes loteadoras e construtoras, das serrarias, das areeiras. Enfrentou o Serviço de Patrimônio da União (SPU), que loteava os costões brasileiros. Foi rigoroso no combate à monocultura.
Seu nome está irreversivelmente ligado a grandes conquistas. Em 1973, tornou-se histórica a sua vitória contra imobiliárias e seus planos de construir espigões ao longo da praias de Itanhaém.
Durante muitos anos, desde o final da década de 60, promoveu passeios a pé e com bicicletas, de Itanhaém a Iguape, passando elas praias da Juréia. Com o fechamento da área pela Nuclebrás e depois pelos órgãos oficiais de meio ambiente, os passeios ganharam força de protesto contra as usinas nucleares e em defesa do direito de ir e vir. Chegou a reunir 1.200 pessoas em uma memorável caravana.
Ê Parnapuã fermoso! Ê Praia Brava bonita! Quantas vezes sua voz entoou este grito de guerra, na imensidão verde da Jureia. Com o fantasma das usinas aniquilado, Zwarg vislumbrou: e o depois?
A especulação imobiliária voltaria agressivamente. Então, não teve dúvidas: “seqüestrou” o então secretário de Meio Ambiente do Estado, Paulo Nogueira Neto, colocou-o em um avião monomotor e o fez sobrevoar toda a região da Juréia. Nasceu neste ato o processo de tombamento da área e a criação da Estação Ecológica Juréia-Itatins.
Zwarg viveu incansável e produtivamente o seu tempo. Recebeu inúmeros títulos. Foi o “o mais admirável dos homens”, como disse a cientista Judith Cortesão. É comparado a São Franscisco de Assis. Sua vida está longe de caber neste artigo. Seus filhos desenvolvem belíssimo trabalho de preservação de sua memória e  lideraram a criação do Instituto Ernesto Zwarg (IEZ).
Para conhecer mais sobre o grande líder, basta acessar: www.iez.org.br (instituto); www.iez.net.br (site biográfico); www.zwarg.com.br (acervo) e institutoernestozwarg.blogspot.com (notícias). Contatos com o IEZ pelo endereço iez@iez.com.br.


Texto publicado no dia 23/08/2011 no Diário do Litoral.